Primeiro Workshop do Escrevivendo

Primeiro Workshop do Escrevivendo
Foi com sucesso que a Casa Das Rosas apresentou o workshop sobre o projeto Escrevivendo. Quem foi, adorou!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A Dama Rosada

A DAMA ROSADA - DoCarmo

Patrícia é uma jovem garota recém formada em Ciências Biológicas e veio morar sozinha em São Paulo com o objetivo de especializar-se em algum ramo da biologia, mas ainda não se definiu. Essa mudança radical em, deixar a casa paterna e viver distante e só em outra cidade, fez-se necessária em decorrência da aprovação em concurso para trabalhar em um grande laboratório.
Desde muito pequena já se notava seus comportamentos determinados, conscientes de suas vontades, senhora de suas decisões e defensora de suas idéias e crenças. Ela demonstrava incredulidade jocosa nas histórias, lendas, contos, fábulas e mitos infantis onde tudo sempre termina bem, uma vez que contam com a intervenção de Fadas Madrinhas, Duendes, Anjinhos e um enorme elenco de seres imaginários criados para o enlevo das crianças. Mas Patrícia dizia-se consciente da realidade: todo acontecimento tem uma causa que produz um efeito e conseqüentemente uma reação provocando um final..
Atualmente mora em um apartamento pequeno, mantido em absoluta ordem. A decoração é bem singela: algumas poltronas com almofadas de suave colorido, pouquíssimos móveis, cortinas muito leves; em seu quarto, além da cama e de um armário com portas espelhadas nas faces esternas, tem uma mesinha em estilo Luiz XV enfeitada com uma caixinha de jóias e uma bonequinha de porcelana representando uma dama no mesmo estilo da mesa, – Dama Rosada – como ela a chama.
Essa é nossa protagonista: racional e objetiva
Em um fim de tarde de um dia tórrido de verão, eis que Patrícia chega extenuada pelo trabalho e transpirada pelo calor, aspirando por um tépido banho, mas ao entrar em seu apartamento apenas consegue jogar-se na cama, de sandálias e bolsa ainda no braço e adormece, sem prestar atenção a uma das portas do armário que estava entreaberta tornando visível o espaço debaixo da cama.
Patrícia adormece profundamente. Começa a sonhar e como num passe de mágica sente-se possuída por uma força estranha que a faz levitar e dirigir-se involuntariamente para cima da mesinha ao lado da Dama Rosada.
Sem questionar ou admirar-se desse fenômeno, ela simplesmente aguarda por instruções, como de vezes anteriores, acontecidas em momentos de dificuldades ou aflições.
- Patrícia, diz a Dama Rosada, você não notou a porta do armário entreaberta que eu estrategicamente deixei para você ver que debaixo de sua cama está um homem, um ladrão escondido?
- Não, minha protetora, estou tão cansada que não tirei as sandálias sequer, só pensei em deitar-me e descansar.
- E com isso fui obrigada a fazê-la adormecer e trazê-la até minha mesinha.
- O que devo fazer?
- Deixe comigo, volte para seu corpo e deixe-me tomá-lo.
“ - Ai, ai, não consigo dormir, minha fome é mais forte do que meu cansaço. Vou levantar-me, telefonar para a pizzaria da avenida e enquanto espero a pizza chegar vou fazer um suco de laranja.
“ Patrícia ‘ levanta-se, espreguiça-se tira as sandálias, coloca a bolsa no armário, deixa a porta aberta, encaminha-se para a janela escancarando-a e vagarosamente sai do quarto, pega o telefone, senta-se em uma poltrona e inicia uma ligação. Nota um movimento do ladrão, talvez ele tencionava sair pela janela, mas vê sua esperança frustrar-se, pois, sapeca como é a Dama Rosada que está incorporada na Patrícia, volta e cantarolando remexe na bolsa sem parar, balbuciando coisas sem nexo o que faz o bandido remexer-se de ansiedade no seu esconderijo. Calmamente volta para a sala, e recomeça a discar. Para. Descansa o telefone na poltrona. Novamente volta para o quarto.Começa a conversar sozinha e diz que vai convidar uma amiga para dividir a pizza com ela, mas sente dúvidas nessa escolha, todas são queridas amigas. Desiste, pensa e raciocina: se comer sozinha sobrará para amanhã. Ótimo, resolvido. Retoma o telefone, disca e faz o pedido, “conversa em voz sussurrada”, e retorna ao quarto dirigindo-se à janela. Novo remexer do ladrão. Nesse momento Patrícia, a Dama Rosada, concentra-se nele e o faz dormir profundamente.
Ouve-se o frear de carros, alvoroço na entrada do prédio, elevador parando – soa estridente a campainha da porta.
Patrícia com passos rápidos chega até a porta e deixa entrar os policiais que se encaminham para o quarto gritando voz de prisão.
Assustado o rapaz acorda sendo puxado pelo braço e sem resistência deixa-se algemar resmungando impropérios à Patrícia, que com olhares brejeiros diz adeus ao bandido acenando com a mão.
Tão logo ela fecha a porta com todos os ferrolhos que tem direito, retorna ao quarto, deita-se e novamente mergulha no sono ou sonho fantástico sentindo a seu lado a Dama Rosada que sorridente lhe pergunta :
- Ainda afirma que sou um ser imaginário?

Nenhum comentário:

Postar um comentário